RESUMO - PERCEPÇÃO DE GRADUANDOS USUÁRIOS DE MACONHA SOBRE A RELAÇÃO ENTRE O USO DA DROGA E SEU DESEMPENHO ACADÊMICO
Debora Lana Alves Monteiro
Universidade Estadual da Paraíba
Resumo
O uso de maconha foi muito discutido na imprensa nos anos 50, por meio da qual o usuário de cannabis era taxado de “vagabundo” e de “doente mental” pelos médicos. Essas representações contribuíram de forma significativa na forma como a sociedade enxerga o uso da maconha. Cerca de 70 anos depois, mais especificamente em 2019, discursos que rotulam alunos de Universidades Públicas e Institutos Federais de “maconheiros” têm-se intensificado nas redes sociais e na mídia em geral. Tais manifestações se configuram como tentativa de desqualificar as instituições públicas de ensino superior e justificar o corte de verbas anunciado pelo Ministério da Educação naquele ano. Tendo em vista a problemática acerca dos discursos preconceituosos direcionados aos estudantes usuários de maconha, buscamos dar voz a esses sujeitos por meio deste estudo, “assumindo o papel clássico do antropólogo como mediador e tradutor de culturas” (MACRAE; SIMOES, 2016). Destarte, o objetivo deste estudo foi compreender a percepção de graduandos usuários de maconha sobre a relação entre uso da droga e desempenho acadêmico. Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, realizado a partir de entrevistas semiestruturadas e grupos focais. Participaram do estudo, graduandos usuários regulares de maconha com idade entre 18 e 30 anos. Cabe ressaltar que a realização de um estudo que envolve a questão polêmica do consumo de drogas ilícitas não é simples. Por isso, foi de suma importância a definição prévia da amostra: a amostragem por bola de neve, que consiste em uma amostragem não-probabilística, com cadeia de referências, onde os participantes não são escolhidos aleatoriamente, mas sim, por meio de indicações de outros participantes. Seguimos nesse percurso metodológico até observar a saturação das informações. Escolhemos a Análise de Conteúdo de Bardin (2011) de forma a melhor organizar e expor as informações coletadas. A totalidade do material produzido por meio das entrevistas e grupos focais resultou em duas categorias principais: 1. O uso não afeta negativamente o rendimento acadêmico, e 2. O uso afeta negativamente o rendimento acadêmico; relacionadas a percepção acerca da relação entre o uso de maconha e o desempenho acadêmico, principalmente pela recorrência das mesmas. A partir da análise dos enunciados constatou- se que alguns dos graduandos usuários de cannabis, em meio a controles informais, utilizam estratégias para mesclar tempo de uso e tempo de estudo, outros preferem se abster totalmente do uso de cannabis enquanto estudam, outros afirmam que o seu desempenho acadêmico melhora sob o efeito da droga. Este estudo contribui para lançar luz sobre um problema de pesquisa pouco abordado, mas muito atual. Dado o exposto, enfatiza-se a necessidade da realização de estudos que deem voz a grupos minoritários, buscando entender a partir do ponto de vista dos pesquisados, os traços da sua cultura, suas percepções de mundo e suas práticas.
Boa noite, Thiago e Débora!
ResponderExcluirSua pesquisa é muito interessante e inusitada. Eu diria ainda que é necessária em um momento social no qual a linguagem midiatizada atua no sentido de colocar no campo da marginalização todo aquele que se apresenta como diferente quando comparado ao grupo dotado de poder político. Nesse sentido, gostaria de ouvir de vocês, como se configura o enquadramento dos usuários de maconha dentro do campo das minorias. E, para além disso, caso ainda não faça parte dos seus referenciais, gostaria de sugerir o conceito sociológico de Estigma Social do antropólogo canadense Erving Goffman.
Rhayara Lira (autora do cometário acima)
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