RESUMO - ENTRE FLORESTAS E MULHERES: VIOLÊNCIAS QUE SE CONECTAM

 

Ana Claudia Aragão Santos

Universidade Federal de Sergipe

anaclaudiaaragao426@gmail.com

 

Fernanda Amorim Accorsi

Universidade Federal de Sergipe

accorsifer@gmail.com

 

 

Resumo 

Este trabalho apresenta um exercício de reflexão sobre as opressões interespécies, bem como questiona as relações de poder, as hierarquias de subordinação, construídas com base nos dualismos, como forte/fraco, homem/mulher, humano/natureza. O cenário é o ano de 2020, marcado pela Pandemia do Covid-19, Sars-CoV-2, que evidenciou ainda mais as desigualdades culturais, sociais, políticas e econômicas no Brasil e escancarou as violências contra as mulheres, contra a floresta e contra os animais. Nosso objetivo é discutir as relações entre a violência contra a mulher e as queimadas no Pantanal e na Amazônia durante a Pandemia. Nossa hipótese é que os ódios à mulher e à floresta se relacionam. Não temos a pretensão de esgotar o assunto, pois as reflexões apresentadas aqui são o ponto de partida do Projeto de Iniciação Científica (PIC) intitulado “Feminilidades e animalismos: as opressões se conectam?”, desenvolvido desde agosto de 2020, na Universidade Federal de Sergipe. Nosso aporte teórico conta com Lessa e Toso (2017) Rosendo (2015), Santos (2017), Lorde (1982) e Adams (2018), cujas teorizações sedimentam a concepção de que diferentes violências se conectam e podem se retroalimentar, porque fazem parte de um sistema marcado pela branquitude, pelo patriarcado, pelo antropocentrismo e pelo capitalismo. A pandemia tem reforçado os sentimentos de posse, exploração e ódio, o que pode ser visto com o aumento de 40% das denúncias de violência doméstica na quarentena (TERRA, 2020). “No Pantanal, as queimadas detectadas passaram de 2.887 para 8.106, o que representa aumento de 180,8%. Na Amazônia, o acréscimo de focos foi de 60,7%, se comparado a 2019” (G1, 2020, s/p). Como nos dedicamos aos estudos ecofeministas e animalistas, entendemos que a violência contra a mulher e a violência contra a natureza se relacionam porque ambas são questões de saúde pública. A conexão entre as violências se dá, ainda, na ideia de que a casa das mulheres e dos animais silvestres não tem sido um lugar seguro que preserve suas existências e dignidades. “Essa ligação manifesta-se na obsessão pela dominação e controle tanto sobre as mulheres quanto sobre as outras espécies” (LESSA, TOSO, 2017, p. 28). Neste sentido, vemos que a tentativa de domínio das mulheres e da natureza parte da mesma origem: os homens – especialmente os brancos, heterossexuais e bem sucedidos. Para fazer a manutenção de seus privilégios na sociedade capitalista, eles se sentem à vontade para devastar a floresta, bem como o imaginário, o emocional, a corporalidade, a vida das mulheres. Vale lembrar que a violência contra a mulher não é sinônimo de agressão física, há outras formas que encarceram e machucam conforme explica a Lei Maria da Penha, nº 11.340/2006 (BRASIL, 2006). Da mesma forma que as queimadas não são as únicas maneiras de violência especista, em razão de que a negligência, a omissão e a caça podem ser naturalizadas em prol do prazer dos predadores.

Palavras-chave: Pandemia; Violência; Ecofeminismo.

Comentários

  1. Muito interessante!! Tenho uma pergunta a fazer: Diante do domínio, em sua maioria, do homem branco, heterossexual e bem sucedido, quais seriam as visões de masculinidades possíveis que poderiam contribuir para a reversão da opressão sobre mulheres e natureza?

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    Respostas
    1. Para responder sua pergunta, poderíamos desestabilizar o dualismo apresentado no texto, forte/fraco, homem/mulher, humano/natureza. Assim, existiriam masculinidades, que se mostram aliadas das mulheres, das florestas, dos mares e rios.
      O problema é que outras masculindades, que não branca, não sucedida e não viril nem sempre são aceitas e ensinadas aos meninos e às meninas. Precisamos exibir aquilo que foge do dualismo e contribuir para a singularidade, para o respeitar ao/à próximo/a, seja um animal humano e/ou não humano. Desta forma estaremos contribuindo para reverter as opressões sobre as mulheres e a natureza.
      Muito obrigada!! Sua pergunta foi enriquecedora. 👏🏽👏🏽

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